sábado, 26 de abril de 2014

UMA TEORIA DO RPG

Ron Edwards, autor de livros de RPG e criador do forúm THE FORGE,  dedicado a auxiliar autores na criação de jogos e promover jogos alternativos, ele é também o primeiro a propor e formular uma "Teoria do RPG", mas o que seria uma Teoria do RPG?
O análogo mais próximo está na Teoria Literária, até o fim do séc. XIX o estudo literário era dominado pelo Historicismo, framework teórico cujas principais características eram a de estabelecer um cânone literário, listar e estudar a vida de autores (autorismo), dividir um conjunto de obras em Movimentos literários distintos. O historicismo não é estranho a nínguem pois trata-se de corrente crítico teórica mais difundida nos sistemas de ensino, uma grande obra literária era aquela que melhor refletisse o "espírito de uma época", pois quais são as características da literatura renascentista? Exatamente as mesmas características do período histórico chamado "Renascimento", confudia-se a historiografia com o estudo de uma obra literaria, que em última instancia relegava a literatura um papel de fonte histórica e produto de processos históricos exógenos a sua prática. A Teoria Literária propunha o rompimento com o historicismo, criando seus próprios conceitos, que de uma obra eram criados e que a ela se voltavam de forma análitica, era a literatura explicando a si mesma. Primordialmente uma "Teoria do RPG" é isto, o RPG explicando a si mesmo.
Existem inúmeros trabalhos acadêmicos que se debruçam sobre a prática do rpg, das mais diversas áreas do conhecimento humano, e apesar de tal diversidade, todos esses estudos guardam entre si uma característica comum, objetificam o RPG. Os verdadeiros sujeitos estão no corpo teórico de tais disciplinas, sendo o rpg um objeto de estudo, tal qual um catédratico literário do século passado, por meio deles poderá alguém tornar-se maior autoridade mundial no assunto, e ainda assim ser incapaz de escrever três linhas de um conto, fazer literatura. Conhecimento passivo por natureza, de cunho logocêntrico, que faz do rpg fenômeno, a ser descrevido e compreendido. Portanto qualquer abordagem que objetifique o RPG, rejeitamo-lá.
Com a internet e o advento de diversos mecânismos de buscas não é dificil ter acesso a tais conhecimentos, um exemplo já numeroso são estudos pedágogicos a respeito do RPG, aonde o rpg é primeiro objetificado e visto com um carater instrumental, iniciativas tentam introduzir o RPG na sala de aula como sendo um meio a transmitir esse ou aquele conhecimento, ou a desenvolver esta ou aquela habilidade. Uma postura radical é opor-se a tais iniciativas, o RPG se colocado dentro de sala de aula, deve ser como um meio de ensinar a fazer RPG, e com próposito nenhum outro além daquele de ser praticado, o RPG como um fim em si mesmo, com seu próprio corpo teórico... Pelas lentes de uma "Teoria do RPG" não se trata de erigir caudalosos tratados de estética para responder a questão se o RPG é ou não arte, e sim erigir caudolos tratados de RPG para responder se a arte é ou não RPG. 
O RPG que objetificara o mundo, pois todo o resto é fenômeno.
De Johan Huizinga em seu livro HOMO LUDENS, matris para todas as abordagens posteriores, extrai-se: "O jogo é uma necessidade fisiológica do ser humano, não é o ato de jogar um reflexo da cultura, mas toda  a cultura um reflexo do jogo, a aspecto de jogo na política, na guerra, na ciência, na arte...". O que também se observa na recente "Gamificação",  uma ciência que emerge para extrair o "gameplay/mecânica" de toda e qualquer atividade humana... 

Detratar-se-á, logicamente, tal saber: "Critics note that The Big Model (uma modelo de teoria do RPG) does not appear to address the academic, political and aesthetic concerns common to literature and theatre" . Uma Teoria do RPG não busca compatibilizar-se com outros saberes, mas a eles se opor, e com eles disputar, lutar por espaço. Não se trata também de negar qualquer abordagem anterior feita a respeito do rpg, mas considerar de que forma dado conhecimento pode ser utilizado no ato de jogar, ou como ferramenta no design de jogos, e todos os outros: as chamas! Como diz Christopher I. Lehrich em seu artigo "Discurso Ritual nos RPG's"  : "RPG theory hopes to serve a constructive function, rather than a purely analytical one: where the anthropologist for example traditionally understands herself as necessarily exterior to the people and situations she analyzes, the RPG theorist wishes to employ the results of his analysis to improve his own gaming."  .

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