sábado, 10 de setembro de 2011

Sétimo Mar - Jean Paul - A Arte de Vestir-se na Escola Valroux

Sargento Rodrigues era um pelejador macanudo de Castilha, bagual não se apoquenhava diante dum redomão, a figura de sua cara retalhada bastava em domar potros chucros no rancho de Don Fernão Mascarenhas, tinha o vigor para esgrimir com as canções mais longas e aceleradas, suas canções de batalha preferidas terminavam com um som abrupto, uma baita batida de unhas nas cordas graves da guitarra, acorde final que dava luz pruma estocada que varou o bucho de sem fim de Mointagneses.

Órfão de pai e mãe assassinados por l´Empereur, não lhe fazia gosto combater ao lado de um Montaignes, menos ainda de receber ordens de um, não importava o que o comandante dissesse, derrubou a mesa onde Jean Paul e o cadete Sanches comiam, ia dar uma lição no forasteiro.

Os soldados todos vierem e fizeram circulo, começou uma cantoria e agitação, para tais pouco valiam títulos e patentes, o valor do homem é sua macheza que só é medida em peleja de ferro frio. Sargento Rodrigues apontou o fio da “estribuchadeira” para Jean Paul caído, e com um repertório de ofensas metafóricas de simbolismo quase obscuro disse:

- Non és Hombre para pelejar com Jo, non és de niente! Dou-te una coça histórica

O cadete Sanches que antes confraternizava com Jean Paul empalideceu.

- Ai Caramba muchacho! Foge Monsieur Jean Paul! Cada cicatriz na cara dele dizem que é um homem que matou!”.

- Meu bom Sanches, por vezes não entendo a fama castilhana de ter a mente afiada! Cada cicatriz diz simplesmente que um homem o acertou, tem tantas que não deve ser bom espadachim, veja bem, um corpo incólume devia ser muito mais temido que um cheio de retalhos! Vede!

Jean Paul pôs fim a cantoria e pôs todos atônitos com cara de ponto de interrogação, tirou todos seus trajes, deixando só olhares incrédulos a sua volta, segurava apenas a main gauche e a espada.

Descobriu-se depois que o Sargento Rodrigues estudou três dias inteiros e pediu ajuda de um padre para falar o que falaria agora em Montaignes com pronuncia perfeita, de modo que Jean Paul o entendesse perfeitamente.

- Vou fazer uma marca no teu rostinho, um “R” de Rodrigues, três movimentos: um traço, uma voltinha, e no fim a pernica do “erre”.

Era Jean Paul quem estava atônito e surpreso agora, fora afetado de tal maneira que suas pernas nem mexiam:

- Eu não acretido, pelas Coxas de Madame Suzette! Jamais em mil vidas imaginaria tal coisa! TU SABES ESCREVER!

O bagual enrubeceu da raiva e atacou furiosamente, Jean Paul foi defendendo suas investidas, e a cada golpe foi vestindo uma peça de roupa: uma bota, outra bota, calças, camisola, casaca, chapéu, amarrou os fios dourados da casaca, chapéu, luvas, por fim deu delicado laço no lenço e ajeitou os babados da gola. Quando terminou de vestir-se, o sargento Rodrigues caiu sem ter levado um golpe, algo dentro de si havia sido destruído, os soldados todos boquiabertos ficaram.

Pouco conhecido é o legado militar de Jean Paul, ao longo de sua vida ele criou um estilo de esgrima próprio derivado da escola Valroux, o sistematizou em um de seus últimos livros “A arte de vestir-se na escola Valroux”, considerado por ele uma das virtudes essenciais do conquistador, segundo suas próprias palavras: “Não basta ser um bom espadachim, o aspirante a conquistador deve ser capaz de botar roupas enquanto esgrima, ou terá uma vida curta, pois eventualmente será pego. Desenvolver essa habilidade é essencial, o conquistador não pode fugir na rua ou isso lhe trará problemas maiores, e há lugares em Thea que são muito frios...”.

A escola de esgrima Pauliniana se dividiu em muitos outros estilos ao longo dos séculos, à medida que novos Jean pauls adaptaram sua filosofia a suas escolas nacionais, nascendo assim “A arte de vestir-se na escola Aldana “A arte de vestir-se na escola Donovan”, e assim por diante...

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