sábado, 10 de setembro de 2011

Sétimo Mar - Jean Paul - O Mosqueteiro

O famoso romance capa e espada de Alec Bumas, “Os cinco Mosqueteiros” fora o livro mais popular em Montaigne da metade do século XVIII ao fim do século XIX, incutindo nos jovens das camadas mais populares uma falsa promessa de ascenção social por meio do exército, tal obra não só entretinha como também engordava os regimentos montaigneses. Poucos sabem que o personagem ficcional Dartanhão foi baseado em uma figura histórica que viveu século antes de Bumas escrever seu livro, tal homem era o mosqueteiro Claude Pierre Antoine Belous. A ficção de Bumas apenas retrata os primeiros anos de Pierre como mosqueteiro, os títulos que ele recebeu por façanhas heróicas foram tantos ao ponto de certa vez o Duque de Ambroise comentar: “Quando se convida Pierre para um cerimonial deve-se começar as solenidades uma hora antes para anuncia-lo”, ter o maior herói de Montaigne e chefe da guarda pessoal do imperador tornou-se um luxo disputado e uma das mais esnobes ostentações entre a alta nobreza. Registros da Guilda dos Espadachins contam a impressionante marca de Claude Pierre, venceu 173 duelos em sua vida, tendo sido derrotado apenas uma vez.

Céu nublado com nuvens antipáticas prenunciavam chuva, Jean Paul nunca estivera tão próximo a morte, cara a cara com ela seria mais apropriado, caira em um engodo e desafiara para duelo o que parecia ser um camponês bêbado e insolente, eis que um esgrimir rasgou os trapos, revelando Claude Pierre, o Mosqueteiro Primus, que já havia salvado l´Empereur duas dúzias de vezes no passado, em simples palavras, o maior espadachim da escola Valroux. Não haveria de ser pela espada que Jean Paul se salvaria, tampouco contra o mosqueteiro mor havia o que barganhar, o herói de Montaigne, incorruptível, para o qual as habilidades de Jean Paul pouco significavam, não iria pedir-lhe opinião sobre versos ou como conquistar o coração de uma donzela, perdido estava Jean Paul.

- Eu não acredito, os nobres estão sem dinheiro para pagar por tua presença em suas cortes, e te deixas levar pelas maquinações do arquiduque contra mim!

- Não atente minha honra Jean Paul, os mosqueteiros estão além da influência de vossa magnificência.

- Não acredito que l’Empereur o tenha autorizado a agir contra mim!

- Meu caro amigo, se eu fosse sempre esperar pelas ordens do imperador para agir, vossa majestade já teria caído a muito.

Claude Pierre sempre foi o mais insubordinado da guarda pessoal, o mais intempestivo mosqueteiro, ou melhor dizendo, possuía uma grande autonomia heróica.

- Então é tua moral que me condena, que hipocrisia, teu companheiro Tortus é tão lascivo quanto eu, quiçá me supera.

- A luxúria de Tortus se dá em camas de palha e terra de chão batido, a tua luxúria se dá em colchões de pena Jean Paul.

- Pois bem então! Mate-me se quiser! Eu bem lhe confesso, nunca fiz questão que Papai o convidasse para o Chateau, que bem lhe diga, ninguém lhe suporta Pierre, toda vez que estais presente Montaigne tem que se fingir de pudica, reconheço teu valor como herói, mas francamente, és um herói chato!

- Ha! Ha! Ha! Eis que não sabemos como um homem nos julga até duelarmos com ele... Todavia não quero mata-lo Jean Paul, és um bom homem, viso apenas deixa-lo coxo, para que não venhas a causar guerras em Montaigne.

Deixa-lo coxo, aquelas palavras despertaram sentimentos que Jean Paul não sabia nomear, foi tomado de uma ira que não sabia a si mesmo capaz, sacou a espada e a main gauche e falo num timbre que sua voz jamais soara antes.

- Pois bem então! Venha! Se nos duelássemos 40 vezes, tu me derrotarias 39 vezes, mas se uma vez eu te derrotasse, não pela destreza da espada, diga-se por sorte minha e azar o teu, vá que escorregues, vá que tropeces, vá que um raio caia em teu chapéu de mosqueteiro, então vou te matar, o que para ti não é ameaça, pois sois herói destemido, mas depois vou fazer-te cornudo, tenho certeza que extensa listas de títulos será para sempre ofuscada por tua nova distinção.

Um trovão soou de nuvens escuras, pela primeira vez um traço fugidio de medo passou no rosto do mosqueteiro, que deixou o golpe de Jean Paul lhe fazer um leve corte, “touché”, encerrando o duelo. É claro que esta história não foi retratada no romance de Alec Bumas, afinal, heróis de capa e espada nada temem, principalmente os heróis chatos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário