No dia seguinte Taylor estava mudado, acordou bem cedo e voltou a fazer exercícios, levantou pesos e correu na esteira, tinha a convicção de que isto seria inútil pois os poderes vinham do traje e não dele, no entanto sentia-se novamente um policial na ativa, jogou todas as bebidas alcoólicas fora e saiu para comprar comida saudável, seriam seu cardápio de agora em diante se resistisse as guloseimas da senhora Maicon, também comprou naquela manhã a biografia de XXXXX ( o herói que salvou o mundo e agora faz um programa culinário).
Quando voltou a seu apartamento a viúva Maicon já tinha arrumado a casa e agora estava preparando o almoço, um canal de TV ainda noticiava para uma audiência tardia os fatos ocorridos no dia anterior: “Pouco importa se os sete homens mortos eram traficantes e estavam armados, um bar é um local público, eu ou você Christian poderíamos estar lá dentro, ter entrado lá dentro por acaso para tomar um “drink”, teríamos corrido perigo de vida, poderíamos acabar morrendo no meio do tiroteio”, disse um colunista da TV ao apresentador, “Foi horrível, eu nunca senti tanto medo em minha vida... ‘glup’! ‘glup’!”, disse um entrevistado, cliente que estava no bar na hora da confusão, - “Qual a sua opinião Dr. Keeus?”, - “Este triste episódio vitimou a vida de um menino, mas a lição que devemos levar é que a repressão nunca resolve totalmente um problema, um usuário de drogas é um doente com uma dependência química, ele não vai abandonar o vício porque sete traficantes foram mortos, novos traficantes surgirão para preencher essa demanda, o que se faz realmente necessário são medidas sócio educativas e...”, então um ‘click’, Taylor trocou para um canal que passava campeonato de “poker”, interrompendo a voz doutoral do comentarista pleno de sabedoria livresca.
“Eu e meu falecido marido passamos por muitas dificuldades e moramos a vida inteira em um bairro pobre, nós dois trabalhamos duro para sobreviver e criar nossos filhos, nem quando éramos desempregados viramos viciados ou traficantes, não entendo por que a TV de hoje fica a favor de um bando de vagabundos”.
Aquelas palavras da senhora Maicon eram todo o incentivo que Taylor precisava ouvir, não tinha certeza de que o garoto havia morrido de fato, mas caso estivesse mesmo morto, alguém precisaria vingá-lo...
“O almoço estava ótimo Sra. Maicon!”, - “Obrigado, para sobremesa eu fiz torta de chantili com framboesas, a sua preferida”, respondeu ela, “A propósito, só não arrumei seu quarto porque a porta estava trancada”, o traje estava escondido lá, “mas eu entendo, você é um rapaz jovem deve estar recebendo a visita de alguma moça, é uma nova namorada” – “não, claro que não!”, respondeu Taylor automaticamente, “Ora filho, você ainda não esqueceu a Jessica não é mesmo! Vocês dois deveriam se acertar, é tão lindo o amor de vocês, prometa que você vai ligar para ela, um homem na sua idade já tem que pensar em ter uma família e filhos, tenho certeza que os filhos de vocês vão ser lindos e que você seria um ótimo pai...”, Taylor constrangeu-se: “tudo bem! Tudo bem! Eu prometo que vou ligar pra ela...”.
A viúva Maicon foi para o seu apartamento colocar sua melhor roupa, uma vez por semana, toda semana sem falta, ela se dá ao trabalho de ir até o distrito policial ver o capitão Rodrigues e insistir para que Taylor seja readmitido na corporação, sempre o leva guloseimas e doces como se isso fosse ajudar a convencer o capitão... “Aquele marginal sempre que era solto ia me assaltar, ele me jurou de morte por ter prestado queixa, maldito covarde! Se Maicon estivesse vivo as coisas seriam diferentes... Escute meu filho, se as coisas não tivessem acontecido como aconteceram, de repente hoje eu que estaria... Não gosto nem de pensar nisso!”, - “Minha senhora, se este ainda fosse o único incidente envolvendo Taylor, mas não é um caso isolado, existem muitos outros casos onde ele...”, -“Tenho certeza então que essas casos todos são mais motivos ainda para ele voltar para a policia, Taylor é um bom homem e um ótimo policial!”, - “Eu não discordo da senhora, mas o que já tentei lhe explicar mil vezes é que esta decisão não esta mais nas minhas mãos, já saiu da minha alçada!”, - “Como assim está fora das suas mãos, você é o capitão ou não é, antigamente o chefe era o Chefe e ponto!”, - “Desculpe Senhora, tenho que atender a uma emergência agora, obrigado pelos doces.”, - “Até semana que vem então capitão, você prefere chocolate ao leite ou amargo?”, - “Amargo! A senhora vai terminar me deixando mais gordo do que já estou!”.
Taylor esperava com ansiedade pelo anoitecer, nessa noite não combateria o crime, não haveria tiros nem violência, ele planejava realizar resgates, simplesmente ajudar a salvar vidas e dessa forma calar a boca da imprensa...
Apesar de por alguma razão sentir-se impelido em agir à noite, incêndios não escolhem hora para acontecer, e lá estava Taylor com seu traje em plena luz do dia em frente a um prédio em chamas...
“Sabemos que tem uma mulher presa no segundo andar, apartamento 216, não temos caminho até ela”, dizia um dos bombeiros ali, “Rápido homens, se não controlarmos o fogo o prédio pode desabar”, antes que o bombeiro terminasse sua sentença Taylor já estava dentro do 216!
Ele surgiu do meio das chamas revoltas, o grafeno levemente incandescente, a mulher tossia, já começara a se intoxicar com a fumaça mas ainda estava consciente e podia andar, se era verdade que os bombeiros não tinham como chegar até ela também era verdade que não havia uma rota de fuga, chamas espessas cobriam todas as entradas e as peças com janelas para a rua, o andar inteiro tornara-se um labirinto com cada vez menos corredores a medida que o tempo passava, Taylor começou então a abrir fendas na parede na esperança que as passagens dessem para algum lugar sem chamas onde a mulher pudesse se refugiar, e foi assim que ele prosseguiu, abrindo caminhos com trancos até conseguir uma rota segura para que a mulher saísse dali!
Já na rua e a salvo, ela nem sequer o agradeceu, “Minha filha! Por favor salve minha filha ela esta no quarto andar...”, suplicou com uma urgência que não deixava espaço para vírgulas, ele então voltou ao prédio, não pode ignorar tantos outros gritos de socorro, ia na direção dos pedidos e tomava a rota mais rápida em direção aos sons, ignorando as divisórias de concreto! Quando finalmente chegou ao quarto andar barulhos de explosões vinham dos andares de baixo, o fogo já tomava grande parte daquele que era o último andar do prédio, as pessoas ali que não estavam mortas haviam pulado pelas janelas ou tentaram uma rota de fuga atravessando o dantesco terceiro andar onde o incêndio começara!
Ele então entrou no apartamento que a mulher lhe indicara e gritou por sobreviventes, vieram duas meninas que estavam escondidas no banheiro cobertas por toalhas molhadas, havia um forte cheiro de carne carbonizada vindo da cozinha em chamas, uma das garotinhas perguntou: “Mamãe, onde esta mamãe?”, Taylor respondeu: “Quando sairmos daqui, no final, você saberá!”. A situação não era nada boa, ele não podia pegá-las e pular para fora pela janela, elas não resistiriam a queda pois estavam muito alto, além disso uma espessa cortina de fumaça cobria qualquer visão que tivesse dos prédios ao lado, o fogo subia rápido e a única alternativa era descer com elas, ele tampouco poderia atravessar paredes segurando as crianças, elas não resistiriam aos impactos, teria que percorrer rotas em chamas usando a velocidade máxima de seu traje para que não se queimassem ou houvesse tempo para que sufocassem, era tudo ainda mais difícil por que a fumaça e a fuligem em seu traje lhe davam quase zero de visibilidade, teria de refazer o caminho até aquele andar ao contrário, e somente com a memória, se falhasse as crianças morreriam! Ele respirou fundo e partiu, pouco depois um bombeiro conseguiu entrar no apartamento pelo lado de fora, auxiliado pela escada magirus que rompeu a cortina de fumaça...
Poucos segundos depois Taylor pulou pela janela do corredor no segundo andar, a uma altura que as garotas podiam suportar, a mãe aflita veio correndo, ambas estavam inconscientes e feridas, mas estavam vivas, “Você é um herói!”, disse a mulher, “Não! Heróis são os homens do corpo de bombeiros da cidade que entram em incêndios sem terem nenhum poder!”, replicou Taylor, o prédio então veio abaixo, ele ficou parado enquanto todos fugiam da onda de fuligem que se aproximava, e assim fez a sua saída de cena.
Já bem longe dali, com o traje totalmente enegrecido da fuligem no topo de um outro arranha-céu, com uma grande bandeira americana ao fundo, Taylor jubilou-se pois realizou seu objetivo, no entanto subestimara o poder destrutivo de um incêndio, todas as células de energia de seu traje foram consumidas, um sinal vermelho de alerta piscava no visor, a energia de reserva mal daria para chegar em casa, era o fim de seu dia como herói.
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